Bicho da SedaO bicho-da-seda (Bombyx Mori) é um inseto originário das estepes semiáridas da Ásia Central. Após a cópula do casal de mariposas da família Bombycidae, a fêmea da espécie coloca em média 500 ovos, que se rompem em um período que varia entre 7 a 21 dias.

Medindo ainda poucos milímetros, as recém-nascidas larvas apresentam corpo escuro devido aos pelos negros que se distribuem ao longo de toda sua anatomia exterior. A coloração escura de seu corpo se esvai à medida em que os pelos são absorvidos e adquirem posteriormente uma coloração esbranquiçada.

Como esses bichos se alimentam ativamente por cerca de 40 dias das folhas de amoreira, eles crescem a olhos vistos. À medida que o corpo cresce, é preciso realizar a troca do exoesqueleto - proteção quitinosa que envolve o corpo da lagarta a fim de proteger os órgãos internos. Essa troca acontece 4 vezes ao longo da vida imatura do inseto que, nesses aproximados 24 dias, passou de 3mm a 7 centímetros de comprimento.

A lagarta cresceu, engordou e já está pronta para continuar sua transformação, denominada metamorfose. A proteína sericígena e fibroína, fabricadas pela glândula de seda são expelidas pela boca do inseto, que começa a tecer seu casulo de seda em volta de si próprio. Dentro do casulo, a lagarta se transforma em pupa ou crisálida. No interior deste invólucro, a pupa sofre transformações intensas durante 10 dias, perdendo células, adquirindo asas e aparelho reprodutor.

Para abandonar a complexa trama de seda do casulo, a mariposa recorre a um mecanismo exclusivo para aquele momento. Ela libera uma substância alcalina que afrouxa um dos extremos do casulo, facilitando sua saída. Agora como mariposa o inseto vive até 16 dias. Ele não mais se alimenta, dedicando-se inteiramente à reprodução, a fim de recomeçar um novo ciclo, dando segmento a espécie.

Curiosidades do Bicho-da-Seda

- O olfato do bicho-da-seda é tão apurado que ele pode sentir a presença da fêmea a mais de 10 quilômetros de distância.

- A seda também está nas celebrações. Quem faz 41 anos de casamento comemora bodas de seda.

- Durante a Segunda Guerra Mundial, a seda era usada na fabricação de paraquedas.

- O mais antigo fio dental data de 1850 e também era feito com fio de seda. Mas dessa vez, encerado.

- Marcos Carneiro Mendonça, primeiro goleiro da Seleção Brasileira e ex-goleiro do Fluminense, jogava com um laço de seda na cintura.

- O tradicional ioiô nasceu na China e era composto por dois discos de marfim e um cordel de seda.

- Os chineses adoram comidas exóticas, é claro que o bicho-da-seda não poderia ficar de fora do cardápio. Lá, é possível degustar petiscos fritos da lagarta ou churrasquinho de bicho-da-seda. Huuummmm!!

- Um único fio de seda pode chegar a 1200 metros de cumprimento.

- O estudante Hilaire Chardonnet estudava Química em 1865 e auxiliou Louis Pasteur em um estudo sobre as doenças que ameaçavam a vida do bicho-da-seda.

O universitário até havia comentado com Pasteur como seria maravilhoso se houvesse algum tecido artificial capaz de substituir a seda. Pasteur respondeu ao amigo que se fosse simples substituir a seda, eles não perderiam tanto tempo estudando e cuidando da vida destes bichinhos.

Mais de uma década se passou, e um certo dia, Chardonnet revelava películas numa sala especial e no escuro, derrubou colódio – substancia volátil que revestia filmes e chapas fotográficas. Como ele preferiu dar continuidade às suas tarefas, ao voltar para limpar o chão, ele percebeu que todo o líquido havia evaporado e, no lugar, havia alguns fios de toque agradável e sedosos. Foram seis anos de estudo e desenvolvimento da “pseudo-seda” que mais tarde se chamaria “raiom” e logo seria comercializada. A viscose é a mais famosa seda sintética.

Sericicultura

SericulturaConsiderada uma das atividades agroindustriais mais antigas do mundo, a arte de criar bichos-da-seda é milenar e tem como objetivo final extrair os cobiçados fios de seda para a inserção no mercado têxtil.

Originária da China, a sericultura exige mais cuidado do que se imagina. Isso porque a qualidade da seda está atrelada às condições das folhas de amoreira, único alimento consumido pela lagarta.

Recomenda-se então que o proprietário cultive um amoreiral saudável, livre de pesticidas e de uma espécie que se adapte melhor ao clima da região que ele habita.

Mãos à Obra

Começando

O primeiro passo a ser dado na criação é a compra do inseto. Adquira o bicho ainda jovem, com cerca de 2mm. Tratar bem a jovem lagarta determina a qualidade do casulo que ela produzirá. A compra dos insetos pode ser feita por unidade ou peso. Para quem quer começar, uma propriedade de meio hectare devidamente estruturada comporta mais de 33 mil lagartas.

Estrutura

A criação deve ser feita em galpões abertos e os insetos dispostos em camas de criação. O tamanho pode variar e ser adaptado ao terreno disponível. Se você construiu um barracão de nove metros de cumprimento por seis de largura, por exemplo, a safra mensal alcança em média 70 kg de casulo. O importante é oferecer aos bichos um local com temperatura em níveis adequados para cada fase de crescimento, além de manter tudo sempre limpo e livre de contaminação. A temperatura do ambiente de criação deve ser de aproximadamente 27 graus e umidade relativa do ar entre 75% e 70%.

Alimentação

As folhas de amoreira devem estar livres de contaminação e terra. A amoreira branca (Morus Alba) é a espécie utilizada para a alimentação das lagartas por serem plantas mais nutritivas e ricas em proteínas. Lembre-se, as lagartinhas adoram folhas frescas.

Reprodução

Quando as lagartas param de comer e atingem aproximadamente 7cm, os insetos devem ser transferidos para um suporte feito de madeira, pois eles tecem o fio em volta de si próprios. Ao final do décimo dia, os casulos vão para um caldeirão contendo água fervida. Ali, os bichos são escaldados ainda com vida, pois o rompimento natural da mariposa arruinaria os fios de seda. Depois dos casulos secos, o processo termina. O próximo passo fica por conta da indústria têxtil.

Integrando

Há, no mercado, empresas que oferecem assistência e apoio ao produtor, disponibilizando mudas de amoreira, lagartas, limpeza adequada do criadouro e apoio técnico durante todo o processo.

Do Casulo ao Tecido

Casulo Amarelo Bicho SedaTransformar o casulo em fio de seda talvez seja a etapa mais complicada de todo o processo. Isso porque, para obter um fio único e uniforme, é preciso primeiramente secar aqueles casulos ainda com os animais dentro, já que os com rupturas não atendem o mercado, perdendo muito valor comercial.

Após a secagem, é feita uma avaliação rigorosa, a fim de descartar todos aqueles casulos danificados e preservando os de estrutura homogênea. Os não selecionados, ao contrário do que se imagina, não são jogados fora. São vendidos para a fabricação de shappe de seda – fios descontínuos e mais curtos, de até 20cm.

Outro critério de seleção de casulos é a coloração, que varia de acordo com a raça dos bichos. Os de cor amarela são característicos de raças europeias e os brancos às chinesas. Fios brancos têm melhor aceitação do mercado, já que o processo de tinturaria torna-se mais fácil e igual. É como colorir uma folha de papel branca. As cores se destacam muito mais. 

Para desenrolar os fios, é preciso mergulhar os casulos em água quente. A temperatura deve ser elevada, pois o calor amolece a sericina, contribuindo para que os fios se desprendam mais facilmente.

A ponta é localizada por intermédio de uma escova e os casulos vão para outro banho quente (aproximadamente 60 ºC) onde, são reunidos diversos filamentos, de acordo com a espessura desejada. Dez quilos de seda em fio equivalem a 100kg de casulos.

Para transformar os complexos filamentos em tecido, é necessário entrelaçar os fios por meio da tecelagem. Antigamente, o processo era realizado apenas manualmente, proporcionando trançado e brilho inigualável. Mas a prática manual deu espaço aos modernos maquinários que realizam o processo com destreza, rapidez e rendimento.

Apesar do brilho incomparável, a seda também passa por processo de tinturaria, que pode ser realizado antes ou depois da tecelagem. As tintas precisam ser específicas para que a cor se fixe nas fibras. Após tingimento, a trama é banhada em uma solução que contribui para a preservação das características naturais do têxtil como o toque macio e o brilho e preservação da nova cor, que precisa resistir às diversas lavagens.

Rota da Seda

Constantinopla respirou aliviada ao ver uma pequena comitiva entrando pelos portões da Capital. Claro, afinal, foram 6 anos de viagem e mais de 15 mil quilômetros percorridos a pé ou sobre animais por estradas desconhecidas e paisagens diversas.

Ao menos o esforço não havia sido em vão, já que os viajantes cumpriram a missão determinada pelo imperador Justiniano. À primeira vista, os bambus ocos não passavam de plantas comuns, mas em seu interior estava recheado do maior segredo do oriente. Casulos intactos da matéria-prima do mais nobre tecido – a seda.

Mas a pequena comitiva mandada por Justiniano foi apenas mínima parcela dos milhões de aventureiros, nobres, clérigos e nômades que percorreram o mais famoso caminho entre oriente e ocidente. Batizado pelo arqueólogo alemão Ferdinand Von Richthofen de “Rota da Seda”, o conjunto de trajetos entre a costa do litoral da Síria a China, mais precisamente na cidade de Xiang foi o mais famoso itinerário comercial de todos os tempos.

Esta rota foi fundamental para a comunicação entre os povos ocidentais e orientais que faziam intercambio de cultura e costumes. O comércio, foco principal do trajeto, facilitava a troca tecnológica de artigos que revolucionaram a sociedade. O advento da pólvora e do papel saiu da China para revolucionar a Europa.

A rota da seda também foi responsável pela propagação de religiões como o Islã, que de berço Oriental Médio se estendeu à Ásia Central e Índia. O budismo, nascido na Índia, caminhou até a China e o Japão, onde lá se difundiram.

A seda entra na rota como principal produto comercial. Uma verdadeira joia de deleite dos nobres árabes e europeus. Mas esse tão desejado tecido não era o único produto que circulava pelas estradas desse longo caminho. Outros têxteis como o linho, tapeçarias, especiarias, incensos, maquiagem, joias e diversos outros itens faziam parte desse mundo que declinou por volta do século 3 ou 4 devido ao bloqueio das estradas pelos hunos, ataques bárbaros e saques e mortes nas estradas.

Lenda do Bicho-da-Seda

JaponesaReza a lenda que a descoberta da seda se deu por um acaso glorioso, com a princesa Hish-Ling Shi vivia num palácio suntuoso de jardins extensos nos arredores de Pequim.

Hish-Ling Shi era uma mulher que amava a natureza acima de todas as coisas e fazia de tudo para estar em contato com ela.

Por isso, todas as tardes, a princesa tomava chá embaixo do pé de amora, a fim de apreciar o verde e as flores de seu palácio.

Certo dia, ela cumpria seu ritual quando notou que em sua xícara de chá quente havia caído algo diferente. Era um casulo.

Surpresa, a princesa percebeu que do casulo foi se desprendendo um fio especial, brilhante como ela jamais vira. Contente com a novidade, a princesa foi rapidamente mostrar ao marido a descoberta. Hwang-Té também surpreendeu-se e ordenou aos empregados do castelo que recolhessem todos os dias os casulos para fabricar um belo vestido para a esposa. Um belo dia, o príncipe decidiu promover um baile para apresentar a beleza de sua amada à corte.

Ao chegar ao baile, os convidados não acreditaram no brilho do vestido que Hish-Ling Shi usava e pensaram até que aquele tecido era mágico. Bondoso, Hwag-Té contou aos presentes a verdade sobre aquele tecido tão formoso. Os chineses, abismados e encantados prometeram nunca revelar o segredo daquele fio mágico que era matéria das mais belas vestimentas já vistas. A China guardou esta confidência por muitos e muitos anos. O segredo do mais nobre tecido do mundo: a seda.

Textos produzidos por Nayara Rios

Revisados por Cristiana Chieffi