Célula SangueCélulas são pequenas estruturas que compõem todo nosso corpo. Cada órgão, cada tecido do corpo, é formado por essas pequenas estruturas. Apesar de pequenas, elas são bastante complexas, possuem núcleo, partes responsáveis por alimentação, respiração, proteção, enfim, têm várias funções e dentro dela mesma, existem várias outras. E, para cada parte do corpo, é necessário um determinado tipo de célula. As que atuam no cérebro não funcionariam bem no sistema reprodutor e vice e versa.

As células-tronco são um tipo celular diferenciado. Elas têm uma característica especial: podem se “transformar” em outros tipos. Funciona como um “coringa” no baralho: ela pode se encaixar em tecidos diferentes do que foi tirado. Ela não apenas se junta a esses diferentes tecidos, mas também se multiplica, ou seja, tecidos que não estavam mais funcionando, crescendo ou estão danificados, podem ser recuperados com as esse tipo de célula.

Muitas possibilidades de cura e tratamentos foram criadas com a descoberta dessas células: mal de Parkinson, câncer, diabetes e outros males que, hoje não tem solução, mas que poderiam ser tratados com o uso das células-tronco. Apesar da expectativa ser grande, ainda não há resposta para saber se essa novidade pode mesmo resolver tudo que lhe foi atribuído. Talvez, no decorrer dos anos e com o aprofundamento nas pesquisas, as promessas poderão se tornar realidade.

Algumas pesquisas ainda estão pouco adiantadas. como é o caso das células-tronco embrionárias. Elas são tiradas de um embrião (óvulo recém fecundado) e para sua retirada é necessário destruir esse embrião. Por esse motivo, alguns setores da sociedade se mostram contra essa iniciativa, por considerarem uma violação do direito à vida. Já a comunidade científica reivindica o fato de que as células embrionárias serem a possível resposta para uma série de doenças.

O que são células-tronco?

São células do corpo humano, que tem a peculiar capacidade de se multiplicar, formando novas partículas semelhantes a que a originou. Além disso, elas podem se transformar em outros tecidos. Isso significa que as células-tronco podem regenerar partes do corpo. Apesar do grande potencial médico que tem, suas pesquisas ainda não estão totalmente desenvolvidas, muito por conta das discussões ideológicas que cerca o assunto.

Ela deve, obrigatoriamente ter duas características: a autorrenovação, que é a capacidade de se multiplicar e se manter existente ao longo do tempo. A segunda característica é de conseguir se “ transformar” e ser capaz de gerar células maduras de um tipo de tecido, diferente do qual ele foi tirado.

As pesquisas começaram na década de 60. Mais precisamente no ano de 1961, com estudos de Till e McCulloch. Por meio de suas pesquisas, conseguiu que um sistema hematopoético destruído fosse regenerado com a integração de células-tronco no sistema. Esse teste foi feito com ratos: o sistema hematopoético de camundongos debilitados foram recompostos após receberem uma medula óssea sadia de outros ratos. Foi considerado, então, que a medula óssea seria capaz de produzir qualquer tipo de célula sanguínea.

Uma grande expectativa está em torno das pesquisas relativas às células-tronco pela possibilidade delas terem capacidade regenerativa. Isso quer dizer que, alguns ferimentos, deficiências, partes danificadas do corpo, podem ser recuperadas com o uso dessas células. Isso dá esperança para pessoas que perderam o movimento em algum órgão, para cegos e para outros tipos de problema. Um exemplo dessa aplicação aconteceu em Brasília: uma fêmea da espécie lobo-guará foi atropelada e fez esse tratamento, tornando possível a sua recuperação.

Dois dos tipos podem ser aproveitadas: a adulta (que pode ser retirada da medula óssea, cordão umbilical ou da placenta) e as embrionárias (retiradas em fase embrionária). As células-tronco adultas já estão em fase mais avançada de pesquisas, principalmente porque as células embrionárias estão envolvidas em polêmicas sobre a validade ética de se trabalhar com elas. As adultas são retiradas mais facilmente e, por ser retirada de um organismo para ser aplicada, geralmente, no mesmo corpo, essas células são facilmente aceitas no organismo. Os problemas relativos à rejeição são mínimos. As adultas, no entanto, têm uma capacidade de “transformação em outros tipos de tecido bem menor do que as embrionárias, por isso o interesse de se aprofundar nas pesquisas relativas às células embrionárias.

Existe ainda a mesenquimal: células do estroma do tecido (parte que dá sustentação) e, assim como as outras, podem se multiplicar e se transformar segundo o tecido em que ela deve ser aplicada. São comumente achadas nos tecidos na medula óssea e no tecido adiposo. Segundo seu potencial de adaptação e transformação, elas são classificadas em cinco classes: totipotentes, pluripotentes, multipotentes, oligopotentes e unipotentes. As totipotentes são capazes de produzir qualquer tipo de célula. Pluripotentes são capazes de produzir todos os tipos celulares de embrião, menos os da placenta e semelhantes. Células multipotentes podem produzir vária linhagens de célula, enaquanto as Oligopotentes são capazes de produzir somente de uma linhagem. Já as unipotentes só podem produzir um tipo de células.

Uso das Células-tronco

Desde o início das pesquisas, os resultados animaram a comunidade científica, que levaram esse entusiasmo ao mundo. Isso porque elas poderiam servir de saída para a recuperação de doenças que, até então, não se tem combate eficiente. Câncer, diabetes, cegueira e paralisia estão na lista das doenças que podem ter solução a partir do uso de células-tronco.

Apesar dos resultados, até agora, terem sido animadores, há um consenso de que ainda é preciso pesquisas para a aplicação, em alguns casos, em seres humanos sem que haja riscos. Além de mais pesquisas ainda há a discussão com a questão moral delas. Como algumas são retiradas do embrião recém fecundado, uma parte da população considera esse embrião como uma forma de vida: portanto, não deve ser usada em experiências, pesquisas ou qualquer ação que viole o direito a vida, segundo o pensamento dessa parcela da população.

O fato é que as células-tronco têm um grande potencial medicinal. Com sua capacidade de se multiplicar e se “transformar” em outro tipo de tecido ou célula, elas são apontadas como a possível solução para uma série de problemas como o câncer, mal de Alzheimer. Colocando-as junto a um tecido que está comprometido, esse tecido tende a “crescer” de novo, a partir dessa ação.

Talvez a principal expectativa seja sobre a medicina regenerativa, que seria um novo ramo da medicina. Essa área possibilitaria que tecidos, órgãos e sistemas que estivessem defeituosos ou comprometidos (por alguma doença ou pela idade) pudessem ser regenerados. A própria expectativa de vida mudaria com essa nova tecnologia. No entanto, as pesquisas ainda não possibilitaram uma resposta concreta em relação à medicina regenerativa. Portanto, esses benefícios ainda são especulação.

Genoma Humano

O projeto Genoma Humano teve seu ponto de partida em 1985, quando cientistas planejaram mapear completamente o genoma humano. Genoma é um campo de estudos da genética e é, também o nome dado a um conjunto de genes de uma determinada espécie. O projeto foi uma iniciativa dos institutos Nacionais da Saúde Estadunidenses, que envolveu a ciência de todo o mundo, buscando fazer esse mapeamento. Teve seu início oficial no ano de 1990, com uma duração esperada de 15 anos. No dia 14 de abril de 2003, o projeto foi concluído com sucesso, segundo anunciado pelos integrantes do projeto. De acordo com as informações, 99% do genoma humano foi examinado com uma precisão de 99,99%.

A expectativa para o projeto era que, com o genoma e os seus genes mapeados, os diagnósticos seriam facilitados. Na verdade, os diagnósticos chegariam a uma nova realidade onde se acharia a doença antes mesmo dela se manisfestar, notando a pré-disposição de cada indivíduo para determinadas enfermidades, como obesidade, diabetes, etc. Ao todo, foram mais de mil integrantes, de 50 países, que participaram das atividades do projeto genoma humano.

Os resultados foram conseguidos basicamente à base de esforço do projeto genoma humano, que era de iniciativa pública e também do grupo de pesquisa “Celera Genomics”, no qual Craig Venter era o líder. A empresa se juntou ao projeto, em 1998, pela grande capacidade do conhecimento adquirido nos estudos renderem dinheiro (principalmente junto às empresas farmacêuticas). Craig começou no projeto com a promessa de que conseguiria mapear o genoma humano em menos tempo e com um investimento menor que o Projeto Genoma Humano.

A “pressa” para fazer esse mapeamento mais rápido seria para poder patentear genes e assim lucrar com as descobertas. De fato, em 4 de setembro 2007, a empresa anunciou a análise completa do genoma de Craig Venter. No entanto, o modo achado para essa rapidez foi uma técnica que acelera os mapeamentos, mas diminui a precisão das análises, ao contrário dos dados do projeto genoma humano, que possui alta precisão. Antes mesmo do final da pesquisa da Celera, no ano de 2000, a empresa entraria com o pedido de patente de 6500 genes. A questão da patente é o “X da questão” para os críticos do projeto genoma humano: com a descoberta desses genes e com o possível processo de patentear certos genes, a produção de medicamentos que os utilizassem ficaria prejudicada. Isso aconteceria porque, para o uso em medicamentos desses materiais genéticos, a empresa que detém os diretos do gene cobraria taxas, que resultariam em medicamentos mais caros e fora de alcance do consumidor. Outro problema que poderia ser causado com o mapeamento genético estaria incluido na melhoria que esse projeto promete: a descoberta de pré-disposições a doenças. Com esses dados em mãos, pessoas com mais facilidade de adquirir alguma doença seriam discriminadas na hora de conseguir emprego ou para a escolha de algumas dificuldades.

Mesmo tendo sido codificado todo esse material genético e levando 13 anos de pesquisas, o projeto conseguiu codificar, em torno de 20% de todo material genético humano. Foram mais de 25.000 genes sequenciados, o que revelou que grande parte do genoma humano não tem como ser decodificado, sendo que sua existência se deve, provavelmente, por razões regulatórias. Já foram descobertos mais de 1800 genes de doenças, o que tem facilitado para produção de remédios mais potentes e mais eficientes contra essas doenças, além disso, o projeto genoma humano possibilitou a produção de mais de 350 produtos biotecnológicos, que estariam em fase de testes.

Clonagem

Ovelha DollyA clonagem é uma técnica na qual se cria um ser com um conteúdo genético semelhante a outro. É uma forma de reprodução assexuada, usada em grande parte por seres constituídos por poucas ou uma célula. Acontece de forma natural em muitos casos na natureza, como nos casos de serem descritos acima (com pouca complexidade celular). É possível a clonagem artificial, ou induzida, na qual, por meios artificiais, onde se colhe informação genética de um ser e se coloca em outro, de forma a esse receptor gerar um clone. A clonagem humana ainda é um tema que gera muita polêmica: apesar de alguns cientistas apontarem muitos benefícios que seriam possíveis com essa técnica, a ética médica e científica e correntes religiosas do assunto fazem da clonagem humana um tabu que ainda é muito discutido.

O primeiro clone foi feito 1952, quando o Dr. Robert Briggs, nos Estados Unidos, usou o núcleo do embrião de um sapo e o colocou em um óvulo. O óvulo fecundou com sucesso e gerou um sapo clonado, considerado o primeiro clone induzido. Essa foi também a primeira vez em que a técnica de transplantar o núcleo de um corpo para o outro foi usado.

Mais tarde, em 1997, o Dr. Wilmut e sua equipe fizeram o trabalho que envolvia a clonagem de uma ovelha. O estudo do pesquisador escocês foi mais avançada, por ter dado um passo diferente das pesquisas antes feitas: ao invés de usar uma célula embrionária, dessa vez foi usada uma célula somática (qualquer uma que não esteja diretamente ligada à reprodução). que foi usada para a clonagem de Dolly (nome dado a ovelha clonada), foi uma glândula mamaria, seu nome foi uma homenagem à cantora americana Dolly Parton, que tinha como característica seios grandes. Foram feitas 227 tentativas até que se chegasse ao resultado de sucesso.

Com o avanço das pesquisas, no mesmo ano da clonagem de Dolly, foi realizada a clonagem de uma rata, sendo que foram feitas apenas 50 tentativas para se chegar ao resultado esperado. O nome dado à rata clonada foi Cumulina, referência as células usadas na clonagem, Cumulus.

Mesmo tendo todo esse destaque na mídia e tendo muitos pesquisadores se dedicando á clonagem, esse fenômeno não é algo inédito na natureza. A clonagem é a forma de todos os seres que realizam reprodução assexuada se multiplicarem. Na lista de seres que usam da clonagem para se reproduzir estão, por exemplo, as bactérias e muitas plantas. O caso de nascer irmãos gêmeos é uma forma de clonagem, pois os dois irmãos têm a mesma carga genética.

Já a clonagem humana é uma área que é cercada de vários pontos de vista que, por sua vez, fazem com que essa área não seja explorada. Enquanto a comunidade científica aponta muitas melhorias que o ser humano pode ter com a produção de seres humanos com a mesma carga genética, religiosos afirmam que apenas Deus tem o direito de criar vidas. Além dessa afirmação, uma série de preocupações relativas à aceitação de um indivíduo clonado na sociedade faz com que essa questão fique ainda mais delicada.

Entre os que defendem a clonagem humana, os argumentos positivos são de melhorias em muitas áreas da medicina. Exemplos não faltam: problemas nos rins e fígado deixariam de existir, pois seria possível clonar esses órgãos e substituir os defeituosos por novos, ferimentos da coluna vertebral poderiam ser revertidos por técnicas que fariam crescer novamente os nervos desse local, as cirurgias plásticas que poderiam substituir partes velhas por novas sem o problema de rejeição e ainda outros benefícios que essa técnica poderia nos trazer. Mas é importante lembrar que todas essas melhorias são especulações, já que ainda não há testes práticos dessas aplicações de clonagem humana. Até porque, a clonagem humana ainda não foi realizada.

Igreja e as Células-Tronco

Fachada IgrejaApesar da promessa de grandes melhorias no campo da medicina, as pesquisas das células tronco ainda não atingiram pleno potencial. Uma das maiores razões para isso é: há uma grande discussão a respeito da validade ou não de se fazer experimentos com embriões. Embriões são óvulos fecundados em fase inicial. Esse embrião contém células-troncos embrionárias.

Existem dois tipos: as embrionárias e as adultas. As embrionárias são tiradas dos embriões e são considerados pela igreja como um ser vivente, enquanto que, para a uma parte da comunidade científica, ainda não. As células adultas são tiradas de diferentes lugares como medula óssea ou do cordão umbilical.

O alvo da discussão são as células-tronco embrionárias. Sendo consideradas como vidas pela igreja, experimentos com esse embrião são condenados, assim como o aborto. Manipular uma vida, segundo a igreja católica e em outras denominações, usando-a apenas como um conjunto de células, não é ético e seria comparado a usar experimentos com humanos. O centro da questão é a visão que ambas as partes tem do começo da vida: a igreja acredita que um óvulo fecundado em sua fase inicial, já possa ser considerado um humano. A igreja apoia as pesquisas e o uso de células-tronco adultas, mas quanto ao uso e manipulação de células embrionárias, a opinião da igreja é contrária.

A constituição brasileira, assim como os direitos humanos, dá direto à vida. Esse direito a vida é usado pelos fiéis para considerar esse tipo de estudo como uma atitude ilegal. Sendo o direto de nascer inviolável, esses estudos poderiam tirar a oportunidade do embrião se tornar uma pessoa, segundo a visão da igreja católica. Já para o lado científico, que é a favor das pesquisas, esse estágio da fecundação ainda não pode ser considerado vida. O argumento da comunidade científica, é que poderiam servir para resolver doenças como diabetes, câncer, além de recuperar a visão em alguns casos de cegueira e solucionar outros problemas degenerativos. Além disso, as pesquisas com células-tronco são uma última esperança para pessoas que perderam o movimento em alguma parte do corpo: isso porque, dependendo do problema que causou essa complicação, a aplicação das células tronco pode trazer a recuperação desses casos.

O processo da fecundação acontece quando o gameta masculino (espermatozoide) fecunda o gameta feminino (óvulo). Nesse momento, começa a fase embrionária, as células-tronco poderiam ser tiradas em torno de sete dias depois da fecundação. Mas, no ato de retirá-las, obrigatoriamente, destrói o embrião. A forma que a ciência achou até o momento para extrair esse tipo de célula foi por meio dos embriões congelados: óvulos fertilizados artificialmente se desenvolvem até se tornarem blastocistos (células embrionárias não diferenciadas, que ainda não estão destinadas especificamente a uma parte da formação do feto). Após chegar a esse estágio, o embrião é destruído para retirar as células-tronco.

O Brasil, em 2005, chegou ao artigo 5º da Lei de Biossegurança (lei nº 11.105, de 24 de março de 2005). A lei liberaria a pesquisa com células-tronco de embriões obtidos por fertilização in vitro e congelados há mais de três anos. No mesmo ano, dois meses depois, o então procurador da República, Cláudio Fonteles entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal contra a Lei de Biossegurança . O argumento para ir contra a lei era o artigo 5º da Constituição Federal, que garante o direito "à inviolabilidade da vida humana", considerando como seres vivos os embriões. Em 2008, o STF teve uma discussão a respeito da inconstitucionalidade da lei de biossegurança. A lei para que esses estudos sejam válidos é que os embriões que serão usados para colher células-tronco precisam ter mais de três anos de congelamento ou sejam embriões inviáveis. É obrigatório que os pais responsáveis pela geração do embrião estejam de acordo com a retirada e foi proibida a comercialização.

Textos produzidos por Guilherme Carvalho

Revisados por Cristiana Chieffi